
17 julho, 2025
Impactos das mudanças climáticas na microbiota do solo
Em um mundo onde todos os processos agrícolas estão em nossas mãos, o clima ainda é um fator preocupante. Como isso impacta a biologia do solo?
Dentro de uma lavoura o agricultor é responsável por muitos processos desde o plantio até a colheita. Escolher a melhor semente, o adubo mais vantajoso, a melhor máquina, os agroquímicos com alta eficiência no controle de patógenos e muitas outras escolhas que são de responsabilidade de quem planta. Porém, um fator chave para alta produtividade está fora do alcance de qualquer agricultor, o clima.
Em um mundo onde a tecnologia é crescente, o desenvolvimento anda a passos largos e a informação é gerada em larga escala, a imprevisibilidade climática acaba se tornando a maior fraqueza do agronegócio.
As mudanças climáticas representam um dos maiores desafios para a sustentabilidade dos sistemas agrícolas no século XXI. A elevação das temperaturas, a irregularidade das chuvas e a ocorrência mais frequente de eventos climáticos extremos – como secas prolongadas e inundações intensas – têm provocado alterações profundas nos componentes físicos, químicos e biológicos do solo. Entre os mais sensíveis, destaca-se a microbiota, cujas funções são vitais para o equilíbrio e a fertilidade dos solos agrícolas.
A microbiota do solo compreende uma comunidade gigante e complexa de bactérias, fungos e outros seres, cujas interações regulam processos chave como a ciclagem de nutrientes, a decomposição da matéria orgânica, a agregação do solo e o controle biológico de fitopatógenos. No entanto, essas comunidades são altamente dependentes das condições ambientais, principalmente temperatura e umidade, e por isso respondem de forma direta às alterações impostas pelo clima.
Fatores de responsabilidade técnica como controle do pH, supressão de patógenos e manutenção da matéria orgânica, ainda estão ao nosso alcance, porém, também são dependentes de atividades climáticas.
A elevação da temperatura do solo pode afetar negativamente microrganismos sensíveis ao calor, promovendo uma substituição por espécies termotolerantes, muitas vezes menos eficientes nos processos biogeoquímicos. Estudos também indicam que temperaturas elevadas aceleram a decomposição da matéria orgânica, reduzindo os estoques de carbono no solo e alterando a dinâmica das comunidades microbianas, o que pode comprometer o funcionamento do sistema a longo prazo.
Em cenários de déficit hídrico, a atividade microbiana tende a diminuir, uma vez que a água é essencial para o transporte de nutrientes e para a manutenção osmótica celular. Por outro lado, em situações de alagamento, ocorre a redução do oxigênio no perfil do solo, o que favorece o crescimento de microrganismos anaeróbicos, muitas vezes associados a processos de desnitrificação e perda de nutrientes, especialmente o nitrogênio. Essa alternância entre ambientes secos e saturados impõe um estresse severo à comunidade microbiana, levando à perda de biodiversidade funcional e resiliente.
Por isso, práticas como a utilização das plantas de cobertura, descompactação do solo e plantio direto, podem minimizar esses impactos negativos. Além disso, os efeitos das mudanças climáticas sobre a microbiota do solo repercutem diretamente na fertilidade do solo. Com menor diversidade e abundância microbiana, processos como a fixação biológica do nitrogênio, a solubilização de fósforo e a mineralização de compostos orgânicos tendem a ser reduzidos. Isso obriga o agricultor a lançar mão de maiores quantidades de fertilizantes químicos, o que pode gerar desequilíbrios adicionais no sistema solo-planta-microrganismos, além de aumentar os custos e os impactos ambientais.
Frente a esse cenário, é fundamental incorporar a perspectiva biológica no manejo da fertilidade dos solos. Práticas conservacionistas como a adoção de plantas de cobertura, o uso racional de fertilizantes, a manutenção da matéria orgânica e o estímulo à biodiversidade microbiana tornam-se ainda mais relevantes como estratégias de adaptação e mitigação dos impactos climáticos.
Em síntese, a microbiota do solo agrícola é um componente chave para a resiliência dos sistemas produtivos frente às mudanças climáticas. A preservação e o estímulo à diversidade funcional desses microrganismos não apenas garantem maior estabilidade ao sistema, como também contribuem para a segurança alimentar em contextos de incerteza ambiental crescente.
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